Mudanças climáticas elevam riscos de novos surtos por vírus e mosquitos, diz estudo
Pesquisa revela que 94% dos especialistas consideram os vírus a maior ameaça para novos surtos; preparar sistemas de saúde para emergências é fundamental
Uma pesquisa global liderada pela Abbott Pandemic Defense Coalition, rede global que monitora ameaças virais emergentes, revelou preocupações significativas entre especialistas em doenças infecciosas em relação às pandemias futuras. A pesquisa contou com a participação de 103 epidemiologistas, virologistas e outros profissionais, que avaliaram a preparação global para novos surtos e destacaram patógenos virais e doenças transmitidas por mosquitos como as maiores ameaças emergentes.
Os especialistas estão divididos sobre quais patógenos têm maior probabilidade de desencadear grandes surtos. Metade dos entrevistados acredita que novas infecções representam o maior risco (49.51%), enquanto a outra metade (50.49%) vê as mudanças em doenças conhecidas, como a covid-19, como igualmente preocupante.
“O que aprendemos com a covid é que um único patógeno pode mudar drasticamente o cenário global”, afirma Mary Rodgers, pesquisadora associada na área de diagnósticos da Abbott. “Precisamos estar preparados não apenas para novos patógenos, mas também para variações em doenças conhecidas, que podem ser igualmente perigosas”, conclui.
Entre os tipos de patógenos mais mencionados, os virais lideram as preocupações, com 94% dos especialistas indicando que eles têm o maior potencial para causar surtos de larga escala, seguidos por infecções bacterianas, fúngicas e parasitárias. A maior preocupação é com a transmissibilidade desses vírus, sobretudo quando eles não possuem vacinas, tratamentos ou testes disponíveis.
Impacto das mudanças climáticas nas doenças infecciosas
As mudanças climáticas estão diretamente relacionadas ao aumento dos riscos de doenças infecciosas, segundo a pesquisa. A expansão das áreas de atuação de mosquitos devido ao aquecimento global é uma das principais preocupações dos especialistas: 61% apontaram os patógenos transmitidos por mosquitos, como dengue, zika e malária, como a maior ameaça futura.
Cerca de 85% dos especialistas afirmaram que o alargamento do alcance de insetos é o fator mais significativo para tornar os surtos mais frequentes e severos. Além disso, 67,9% citaram mudanças na migração animal e 61,1% destacaram as migrações humanas forçadas por eventos climáticos como fatores que também agravam o risco de novas epidemias. Tempestades extremas, como inundações e furacões, foram vistas como ameaças importantes por 59,2% dos especialistas.
“À medida que os padrões climáticos se tornam menos previsíveis, vemos o mesmo acontecer com as doenças infecciosas. Inundações trazem patógenos para novas áreas, o aumento das temperaturas faz os mosquitos picarem mais frequentemente e incêndios florestais mudam o habitat dos animais, levando doenças para novas regiões. Precisamos monitorar como essas mudanças afetam os fatores de risco para surto”, alerta Mary.
Lacunas na preparação global
Apesar de 90% dos entrevistados considerarem o mundo mais preparado do que antes da pandemia de covid-19, existem lacunas importantes a serem preenchidas. As três principais preocupações apontadas incluem a desconfiança pública e a desinformação (18,7%), a falta de investimento em sistemas de teste de saúde pública (15,2%) e a incapacidade de identificar rapidamente novos patógenos (12,3%)
“Melhorar o acesso a exames e investigar a fundo os casos com resultados negativos, sem se limitar aos patógenos conhecidos, são passos essenciais. O sequenciamento de última geração, que está se tornando mais acessível globalmente, é crucial para identificar a verdadeira causa de um surto”, defende a pesquisadora.
Para fortalecer a preparação para pandemias, os especialistas destacaram cinco áreas prioritárias:
- Programas de vigilância para identificar patógenos emergentes – considerados urgentes por 41,7% dos especialistas
- Financiamento para infraestrutura de saúde pública (25,2%)
- Aumento do número de epidemiologistas e trabalhadores da linha de frente (7,8%)
- Desenvolvimento de testes diagnósticos rápidos (1,9%)
- Capacidades de infraestrutura de testes (6,8%)
“Os epidemiologistas são fundamentais para identificar e responder a uma futura pandemia, e ter profissionais bem treinados permitirá uma resposta rápida. Atualmente, existe uma lacuna no número de epidemiologistas qualificados globalmente. Eles precisam de experiência em analisar dados clínicos e identificar casos potenciais de novos patógenos ou primeiros casos de surtos”, diz Mary.
Recomendações para o futuro
Os especialistas reforçam a necessidade de ações contínuas e integradas para melhorar a vigilância e a infraestrutura de saúde pública. Isso inclui o uso de tecnologias avançadas, como monitoramento por redes de dados, para identificar rapidamente surtos e implementar contramedidas eficazes. Além disso, é essencial educar a população sobre doenças infecciosas para combater a desinformação e aumentar a confiança nas medidas de saúde pública.
“Os líderes globais têm uma responsabilidade crucial na gestão de futuras pandemias. A vigilância é fundamental e precisa ser ampliada globalmente para permitir respostas mais rápidas. A colaboração é essencial para tornar as comunidades mais seguras e prevenir a próxima pandemia”, enfatiza a pesquisadora.
O estudo da Abbott enfatiza que o sucesso da preparação para futuras pandemias depende de investimentos constantes em pesquisa, desenvolvimento de tecnologias de monitoramento e diagnóstico, e educação pública. Além de preparar sistemas de saúde para emergências, é fundamental criar uma cultura de confiança e colaboração global para evitar novas crises de saúde.