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Os avanços da ciência para o tipo mais prevalente de câncer de pulmão

Tumor de não pequenas células é alvo de novas drogas capazes de diminuir risco de morte; medicamento reduziu recorrência da doença em 76%

Por Paula Felix Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 4 dez 2023, 17h20

Nos últimos anos, a ciência e a medicina têm se concentrado na oferta de tratamentos cada vez mais personalizados contra o câncer e, nesse caminho, também são trabalhadas estratégias para os cuidados com tumores que carregam mutações que desafiam médicos e pacientes. Um exemplo é o câncer de pulmão de não pequenas células, tipo mais prevalente e que traz riscos de metástases cerebrais. Neste ano, novidades animadoras foram apresentadas à comunidade científica e há drogas promissoras capazes de diminuir óbitos ou a recorrência da doença em 76%.

Esse achado veio de ensaios clínicos de fase 3 com o alectinibe, droga da farmacêutica Roche, que, de tão promissores, foram apresentados de última hora na edição passada do congresso da Sociedade Europeia de Oncologia Médica (ESMO, na sigla em inglês), realizado em outubro. Os testes foram feitos com voluntários diagnosticados com câncer de pulmão ALK-positivo em fase inicial e com tumores com menos de 4 cm.

A importância dos resultados tem relação com os impactos devastadores da doença. O câncer de pulmão de não pequenas células equivale a 85% de todos os casos da doença e a mutação alvo desse estudo está ligada a episódios em pessoas jovens, na casa dos 55 anos, não fumantes ou com tabagismo leve, e apresenta risco elevado de se espalhar pelo cérebro. Por isso é importante fazer o ataque em fase inicial.

Além disso, evitar o retorno da atividade das células tumorais é fundamental para que a doença não se torne incurável no futuro, pois, nesses pacientes, uma recidiva significa a disseminação dos tumores para outras partes do corpo.

“O câncer de pulmão sempre foi preocupante por sua frequência. É o quarto mais frequente no Brasil e é um dos mais letais. Só que, apenas mais recentemente, começamos a descobrir que nem todos os tumores são iguais, alguns têm características particulares, o que nos permitiu avançar em relação a inovações”, diz Michelle França, diretora da Roche Brasil. “Essa diversidade de alterações permite faz medicações específicas para essas condições e  ter um tratamento personalizado”, completa.

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Segundo Michelle, os resultados foram alcançados em associação com o tratamento padrão, que é a cirurgia, e em substituição à quimioterapia. A medicação já foi aprovada no Brasil, mas para pacientes já com metástases. “Há muitas revoluções no câncer de pulmão, mas 89% dos pacientes ainda são diagnosticados em condição mais tardia. Os ensaios mostram que o paciente teria a possibilidade de ser atendido em fase inicial.”

Outros estudos

No Brasil, os oncologistas torácicos Carlos Gil Ferreira e Tatiane Montella conduziram um estudo com pacientes brasileiros e mostraram que as mutações genéticas eram diferentes de pessoas que vivem em outras regiões do mundo.

A análise de 7.413 pacientes, publicada no periódico JCO Global Oncology, mostrou que 24,2% tinham ao menos uma mutação da proteína EGFR, responsável pelo controle do crescimento e divisão das células. Na Europa e nos Estados Unidos, o índice é de 15%

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“A correta identificação dessas mutações são fundamentais para determinar as opções de tratamento e a possibilidade de resposta dos pacientes”, afirma Ferreira, que é presidente do Instituto Oncoclínicas.

Na reunião anual da Sociedade Americana de Oncologia Clínica (ASCO, na sigla em inglês), o evento mais importante de oncologia do mundo, a novidade apresentada foi o uso do medicamento osimertinibe (de nome comercial Tagrisso) como caminho para melhorar a sobrevida de pacientes com tumores pulmonares de células não pequenas com uma mutação chamada EGFR e nos estágios IB, II ou IIIA da doença. O ensaio utilizou a terapia como adjuvante, ou seja, após o tratamento inicial para combater a doença – no caso, a cirurgia – e teve resultados animadores.

A taxa de sobrevida global em cinco anos, considerada padrão-ouro para análise de eficácia, foi de 88% no grupo tratado com o medicamento e de 78% entre os que receberam placebo. Em relação ao risco de morte, o índice foi 51% menor para os que receberam a droga.

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