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Dias Lopes

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Bem-casado

Agora preparado o ano inteiro, pois os noivos escolhem menos o mês de maio para casar, ele virou um dos docinhos mais amados do Brasil

Por J.A. Dias Lopes Atualizado em 21 jan 2019, 19h43 - Publicado em 21 jan 2019, 19h19
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  • A lenda envolve o bem-casado em querido significado. Conta que a tradição de oferecê-lo aos convidados, no final da comemoração nupcial, surgiu um século atrás, talvez no sudoeste de Brasil. O docinho teria começado a ser saboreado como atração dos aniversários de boneca do século XX, no lugar ocupado atualmente pelo ubíquo brigadeiro. As meninas o ofereciam às amigas durante a festa infantil. Quando cresceram e ficaram noivas, incorporaram o docinho ao cardápio dos seus casamentos, por óbvias razões sentimentais. Bonito, não é?

    No bem-casado, dois bolinhos (ou seriam biscoitos?), tradicionalmente redondos e necessariamente macios, são unidos por uma camada generosa de doce de leite ou leite condensado (os recheios preferidos), creme de ovos, às vezes baba de moça ou geleia de frutas; uma calda de açúcar o umedece e enriquece. Daí o nome. “O bem-casado simboliza uma predestinação humana, o encontro de dois seres distintos que se completam, formalizado no casamento”, explica Rosa Maciel, editora do “Guia de Noivos”, editado em São Paulo, já na 20ª edição, especializado em casamentos.

    A embalagem do docinho varia conforme o gosto da noiva ou a inspiração da sua pêtissière. Costuma ser de papel crepom, de seda ou transparente, com uma fita vermelha ou dourada em volta; ou é de renda delicada. Pode vir inclusive dentro de uma caixinha. Às vezes ostenta no acabamento um pauzinho de canela, uma pérola, florzinha ou conchinha do mar, adereço recomendado se a festa for na praia.

    Enfim, não há regras fixas, vale a imaginação criadora. Com tantos atrativos, torna-se o docinho mais disputado da festa – as muito generosas disponibilizam três unidades por pessoa, até porque há sempre quem abuse da prodigalidade dos noivos. Os convidados fazem fila diante da mesa no qual é oferecido. Algumas mulheres o colocam na bolsa, os homens o enfiam no bolso. É para ser comido em casa, embora parte do estoque acabe no caminho.

    Afirma-se que o bem-casado tem origem portuguesa e tudo indica que sim. No Brasil, porém, ganhou importância superior. Para começar, seu nome mudou. Os portugueses o chamam de casadinho e o recheiam com ovos moles ou geleia. E, paradoxalmente, não o servem no final da festa nupcial. Consomem-no geralmente em casa e nas confeitarias. Na comemoração de casamento lusitana, os doces são outros ou então há confeitos no lugar, como amêndoas doces peladas, torradas e cobertas por uma pasta de açúcar.

    Por que falar no bem-casado em janeiro, quando o mês das noivas é maio? A tradição mudou. Maio deixou de ser o mês preferido das noivas para casar. Segundo uma pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), de 2013, último levantamento que encontramos, apenas 7% delas o escolheram para casar. No hemisfério sul, onde estamos, as cerimônias nupciais agora são em julho, setembro, novembro, dezembro e no ensolarado janeiro. Para quem deseja oferecer uma recepção à tarde, é um mês perfeito. Os dias são mais longos e, como muitos eventos não acontecem em seus dias, os custos se tornam mais convenientes.

    Como é verão, as comidas precisam se adaptar ao calor, mas os buffets das grandes cidades sabem contornar o problema, elaborando alimentos frescos. Entretanto, além do bolo de noiva, um doce permanece obrigatório no Brasil: justamente o bem-casado. Sua massa já foi exclusivamente pão de ló. Hoje, nem tanto. Para tornar o docinho mais leve e macio, as pâtissières combinam a farinha de trigo com amido de milho, farinha de arroz ou fécula de batata.

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    Impossível saber em que proporção isso acontece, pois elas habitualmente alegam que a receita é de família e… secreta. “Apesar de ser uma massa batida por muito tempo, com ovos e açúcar, para que fique bem aerada, em razão desses outros ingredientes eu não a considero pão de ló”, sustenta o pâtissier Flávio Federico, de São Paulo. “O amido de milho, a farinha de arroz ou a fécula de batata não contém glúten, um composto de proteínas encontrado nos cereais como trigo, centeio ou cevada, que confere mais dureza à massa.”

    Acredita-se que o bem-casado descenda do alfajor árabe, feito com farinha de trigo, manteiga, ovos, mel e fermento. Sua versão ibero-americana desfruta de enorme prestígio em países como a Argentina. Se bem que unir dois bolinhos, com um recheio delicioso, é intuição universal da qual o sanduíche, preparado com duas fatias de pão, deve ser exemplo universal. Também se associa o bem-casado ao macaron dos franceses, caracterizado pelo exterior crocante e o interior macio. A massa leva amêndoas moídas, açúcar, clara de ovo, e pode ser perfumada com café, chocolate, baunilha, pistache, morango etc.

    Como outros sucessos gastronômicos, o bem-casado se tornou versátil. Deixou de ser distribuído apenas no final das comemorações nupciais. Também é saboreado em eventos familiares, da primeira comunhão do rapazote ou da mocinha às festas de debutantes. Quando necessário, até troca o nome. Nas celebrações de nascimento, presenteado às pessoas que visitam o bebê na maternidade, vira recém-nascido; nos aniversários é bem-vivido. Curiosamente, os livros dos doces típicos brasileiros o citam escassamente, embora o bem-casado mereça de sobra essa distinção.

    BEM-CASADO

    Rende cerca de 20 unidades (dependendo do tamanho)

    INGREDIENTES

    Massa

    .60g de gemas peneiradas (3 a 4 gemas)

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    .100g de ovos inteiros com as gemas peneiradas (2 ovos)

    .5g de açúcar de baunilha

    .100g de açúcar refinado

    .120g de farinha de trigo peneirada

    .40g de amido de milho (Maizena)

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    .2ml de essência de baunilha

    .1 pitada de sal

    Recheio

    .1 lata de leite condensado

    .50g de creme de leite UHT

    .10g de manteiga sem sal

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    .30ml de leite

    .10g de farinha de trigo

    .2ml de essência de baunilha (facultativo)

    Calda para banhar

    .300g de açúcar de confeiteiro peneirado

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    .150ml de água

    PREPARO

    Massa

    1.Na batedeira, junte as gemas, os ovos, o açúcar de baunilha e bata, colocando o açúcar refinado aos poucos, em três fases. Continue batendo até obter uma massa aerada e bem fofa.

    2.Desligue a batedeira e incorpore à massa a farinha de trigo e o amido de milho, a essência de baunilha e a pitada de sal. Misture delicadamente, de preferência com uma espátula com furos (ou uma escumadeira), para continuar aerando a massa.

    3.Forre uma assadeira com papel-manteiga e, com um saco de confeiteiro (usando bico perlê), pingue a massa sobre o papel-manteiga, mantendo uma certa distância entre cada porção de massa. Se tiver dificuldade para delimitar o tamanho, risque círculos sobre o papel-manteiga com a ajuda de um aro e pingue a massa dentro desse espaço.

    4.Leve para assar em forno médio, a 180ºC (forno convencional) ou 170ºC (forno turbo), por cerca de dez minutos, até dourar.

    5.Assim que saírem do forno, desgrude as massas do papel-manteiga usando uma espátula de raspagem. Deixe esfriar.

    Recheio

    6.Em uma panela, misture todos os ingredientes.

    7.Leve ao forno brando, mexendo sempre, e deixe apurar, sem parar de mexer, até que, ao passar a colher, apareça o fundo da panela.

    8.Coloque em uma vasilha e deixe esfriar.

    Calda para banhar

    9. Em uma panela, misture o açúcar de confeiteiro com a água e leve ao fogo brando, até o açúcar ficar completamente dissolvido e a calda engrossar.

    10.Dica: use a calda levemente morna para banhar cada bem-casado, um a um. Se necessário, coloque a calda em banho-maria para que mantenha a temperatura. Se começar a secar, à medida em que for sendo usada, vá adicionando mais água morna.

    Finalização

    11.Recheie o bem-casado, colocando a mistura de leite condensado entre as duas partes que o formam, e banhe-os com a calda. Deixe-o secar de um dia para o outro e só o embrulhe depois de estar bem seco.

    Receita da pâtissière Amanda Lopes, de São Paulo, SP.

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