De eleições a guerras e golpes, relembre os principais eventos de 2024 em fotos
Conflitos marcaram o ano com tragédia e espanto, da Ucrânia ao Oriente Médio; volta de Trump à Casa Branca é só uma entre muitas surpresas eleitorais

Em 2024, talvez mais do que em anos anteriores, uma sucessão de acontecimentos extraordinários abalaram o globo, para o bem e para o mal. Foi um ano marcado pelo exercício da democracia – mais eleitores do que nunca na história foram às urnas, quase 70 países mais a União Europeia –, o que acabou sendo prato cheio não só para reviravoltas e surpresas, mas também abusos de poder, acusações de fraude e o perigoso avanço da extrema direita.
O mundo se avizinhava no início de 2024 já é outro, marcado ainda por guerras tomando novas proporções (da Ucrânia ao Oriente Médio), tentativas de golpe (a Coreia do Sul é a mais recente), derrubada de poder (os sírios destituíram Assad após 13 anos de guerra civil) e até pelo Brasil mostrando seu protagonismo no palco internacional durante a reunião do G20, no Rio de Janeiro.
Relembre alguns dos principais acontecimentos do ano, em fotos:
8 de janeiro: guerra às gangues no Equador

O presidente do Equador, Daniel Noboa, declara estado de emergência, impõe toque de recolher e autoriza as Forças Armadas a entrar nas prisões e ocupar as ruas após uma nova explosão de violência no país.
O estopim foi a fuga da prisão de Adolfo Macías, o Fito, chefão da quadrilha Los Choneros — calcula-se que ao menos nove das 36 penitenciárias equatorianas sejam totalmente controladas por criminosos. À notícia da fuga seguiram-se rebeliões, sequestros, explosões e incêndios de carros e tiroteios em várias cidades.
“Não há precedente de um desafio tão brutal à autoridade do Estado, em um número tão alto de cidades importantes, desde a guerra de Pablo Escobar na Colômbia, na década de 1990”, disse a VEJA o analista político Daniel Zovatto, do Centro de Estudos Internacionais da Pontifícia Universidade Católica do Chile, na época.
14 de janeiro: novo rosto no trono na Dinamarca

A muito querida rainha Margrethe, 83 anos, cumpre a promessa, que fez em seu tradicional discurso de fim de ano, de abdicari em favor do herdeiro, príncipe Frederik. Era a exata data em que completava 52 anos no trono.
Ela citou questões de saúde: “O tempo passa, as doenças aumentam. Decidi que essa é a hora certa”. Nas colunas de fofocas e nas redes sociais, porém, as más línguas não apontaram a coincidência entre a abdicação e o escândalo envolvendo Frederik — que, em uma visita particular e não divulgada a Madri, em outubro de 2023, passou um dia e uma noite em companhia da socialite mexicana Genoveva Casanova, esfacelando a imagem de casamento perfeito com a princesa Mary, com quem tem quatro filhos.
A se crer nos trending topics, ela estaria tendo dificuldade para engolir a traição, e a perspectiva de se tornar rainha consorte seria uma manobra de Margrethe para amolecer a nora.
4 de fevereiro: El Salvador tem líder inconteste

Nayib Bukele vence eleição com mais de 85% dos votos, primeiro presidente a ser reeleito em El Salvador desde 1944. O partido que fundou há apenas seis anos, o Novas Ideias, ocupa quase todas as cadeiras da Assembleia.
Líder inconteste, o líder “pop” de 42 anos nada de braçada na onda de popularidade alcançada com a dizimação das gangues que faziam de El Salvador um dos lugares mais violentos do planeta. Conseguiu a façanha atropelando a democracia, com prisões indiscriminadas, Judiciário enfaixado e oposição reprimida — mas nada disso parece importar. A população, aliviada, o apoia integralmente, por mais ditatorial que soe, inflando o prestígio de um “modelo Bukele” em países da região.
16 de fevereiro: morre porta-estandarte da oposição a Putin

Morre Alexei Navalny, mais conhecido e influente opositor do presidente russo, Vladimir Putin. Ele perde a vida na cadeia em circunstâncias que seriam misteriosas, não fosse a certeza geral de que houve interferência da mão pesada do Kremlin.
Implacável divulgador das regalias e da corrupção na cúpula governante, o opositor foi ganhando fama até ser vítima, em 2020, de uma tentativa de envenenamento com o agente nervoso novichok, produto tóxico da era soviética e marca registrada dos serviços secretos russos na eliminação de desafetos. Levado às pressas para a Alemanha em um jatinho acionado por ativistas, sobreviveu e tomou a arriscadíssima decisão de voltar à Rússia, onde foi preso assim que pousou.
A mulher de Navalny, Yulia, 47 anos, que vive em Londres com os dois filhos, colocou-se à frente da causa defendida pelo marido e acusou o Kremlin de estar retendo o corpo à espera da eliminação dos efeitos de um suposto novo envenenamento.
Quase exatamente um mês depois do anúncio da morte, Putin foi reeleito na Rússia.
13 e 19 de abril: duelo dos inimigos mortais

O Irã, regido por uma autocracia islâmica, cujo objetivo é apagar do mapa o estado judeu, dispara mais de 300 mísseis e drones na direção de Jerusalém. O ataque, anunciado previamente, é espetacularmente neutralizado: Israel aciona sua defesa antiaérea, capitaneada por um sistema batizado de Domo de Ferro, e, com o suporte de baterias aliadas, intercepta quase todos os projéteis, com danos mínimos.
Seis dias depois, as forças israelenses revidam, e atingem defesas aéreas e bases do inimigo. Os danos também não são extensos, mas a troca de disparos marca o primeiro conflito direto entre Israel e as forças armadas de algum país do Oriente Médio em meio século — desde a guerra do Yom Kippur, em 1973, deslanchada por um ataque conjunto de Egito e Síria.
Antes, o conflito Israel-Irã se concretizava em ataques a navios, atentados contra alvos civis israelenses e no assassinato ocasional de figuras-chave iranianas, como Mohsen Fakhrizadeh, o padrinho do programa nuclear de Teerã, em 2020. Empenhados em evitar uma participação militar direta na batata quente do Oriente Médio, os iranianos cultivaram uma rede de grupos islâmicos radicais, armados e treinados por eles e espalhados por Iraque, Síria, Líbano e Iêmen, a que deram o nome de Eixo da Resistência (ironia com “Eixo do Mal”, definido por George W. Bush depois dos atentados de 11 de setembro de 2001).
15 de maio: atentado ao premiê da Eslováquia

Robert Fico, primeiro-ministro eslovaco, é baleado cinco vezes à queima-roupa enquanto cumprimentava apoiadores em um centro comunitário da cidade de Handlova, a cerca de 180 km da capital, Bratislava. Ele é hospitalizado, passa por diversas cirurgias e, após dias de incerteza, começa a se recuperar.
A investigação subsequente falou em “motivações políticas” para o atentado. Fico começou como militante do Partido Comunista da antiga Checoslováquia e entrou quase diretamente no desmanche da cortina de ferro erguida pela União Soviética, fazendo carreira na Esquerda Democrática, o partido herdeiro do comunismo.
Hoje, é defensor, simultaneamente, de coisas aparentemente dicotômicas: do euro, da aproximação com Moscou, da oposição à Ucrânia, do fechamento das fronteiras a imigrantes, do controle da mídia e, durante a pandemia de Covid-19, das máscaras e da vacinação compulsória. Sem o peso nem a capacidade argumentativa do vizinho Viktor Orbán, de certa maneira procurava emular o líder húngaro.
19 de maio: acidente chacoalha Irã

O presidente iraniano, Ebrahim Raisi, e seu ministro das Relações Exteriores, Hossein Amir-Abdollahian, morrem em um acidente de helicóptero perto da fronteira Azerbaijão-Irã.
O presidente do Irã foi um clérigo linha-dura eleito em agosto de 2021 com o apoio do líder supremo do país, o aiatolá Ali Khamenei. Lá, quem manda mesmo é ele, mas o presidente tem grande influência na política interna e externa. Foi Khamenei que escolheu Raisi para ser o grande guardião da Astan Quds Razavi, uma das fundações religiosas do Irã. O país é governado com mãos de ferro desde a Revolução Islâmica de 1979, que impôs restrições à liberdade política.
Os iranianos elegeram um sucessor mais moderado, Masoud Pezeshkian. Mesmo assim, quem dá a última palavra em assuntos estratégicos de Estado é o líder supremo.
2 de junho: primeira mulher no Palácio Nacional

Em meio a gritos de “presidenta, presidenta”, Claudia Sheinbaum, 61 anos, celebra no Zócalo, a praça principal da Cidade do México, a vitória nas eleições presidenciais com quase 60% dos votos, a maior porcentagem no período democrático do país. Detalhe: sua grande adversária era outra mulher, Xóchitl Gálvez.
Ex-prefeita da capital, neta de imigrantes judeus, divorciada e mãe de uma filha, Sheinbaum fez carreira aliando a discrição na vida pessoal a uma imagem de seriedade — é doutora em engenharia ambiental. Mas, para ganhar a eleição, o fator decisivo foi o apoio do atual presidente, Andrés Manuel López Obrador, o popular AMLO, seu padrinho político que, no último ano de governo, ostenta inabalável índice de aprovação na casa dos 65%.
A dúvida agora é se ela seguirá preservando o legado do mentor, um populista de esquerda com queda pelo autoritarismo, ou adotará medidas mais firmes e pragmáticas para lidar com os dois dramas mexicanos no momento: a violência dos cartéis de drogas e o mar de imigrantes que atravessam o país em direção à fronteira americana.
24 de junho: Assange sai da prisão

Fundador do WikiLeaks, Julian Assange deixa o Reino Unido após ser libertado da prisão (onde passou 5 anos) em um acordo judicial com os Estados Unidos. Ele retorna à Austrália, sua terra natal, dois dias depois.
Depois de intensa negociação, ele decidiu declarar-se culpado por parte do vazamento de 250 mil documentos com informações sigilosas militares e diplomáticas dos Estados Unidos em 2010 e 2011 (e também de outros países, inclusive do Brasil, no período do primeiro mandato de Dilma Rousseff). O delito reconhecido pressupõe pena máxima de dez anos de prisão, mas ficou acertado que a condenação seja de cinco anos, já cumprida, portanto.
Antes da inesperada solução, Assange era acusado por Washington de delito de espionagem, que poderia pô-lo atrás das grades por 175 anos.
4 de julho: trabalhistas britânicos voltam ao poder

Nas eleições gerais do Reino Unido, Keir Starmer lidera o Partido Trabalhista para uma vitória esmagadora, encerrando 14 anos de governos conservadores.
O então primeiro-ministro do Reino Unido, Rishi Sunak, assiste ao colapso de seu Partido Conservador ao lado de outros mandatários tradicionais de linha moderada, guardiões do status quo, que mundo afora estão se debatendo para não submergir — e perdendo a batalha — no mar revolto de uma nova era política.
Desde então, porém, Starmer viu sua popularidade desabar 51 pontos desde então, consequência de medidas impopulares e da impaciência dos eleitores cansados de ver a vida piorar com a insistente inflação. Starmer prometeu pôr o país no topo do índice de crescimento do G7, o grupo das economias mais avançadas do planeta, através de pesados investimentos em habitação e saúde. Mas mudou de tom e agora admite que será preciso conter gastos para controlar as contas públicas.
7 de julho: reviravolta da esquerda na França

A Nova Frente Popular, uma aliança de esquerda formada às pressas, para surpresa geral, fez 182 deputados e se tornou a maior força parlamentar, demovendo para a terceira posição o Reagrupamento Nacional (RN), que, com 143 cadeiras, viu anulada a vantagem que conseguira abrir no primeiro turno. A coalizão de centro do presidente francês Emmanuel Macron, Juntos, contabilizou 168 assentos na Assembleia Nacional — 82 a menos do que tinha antes.
Mas ninguém conseguiu a maioria absoluta, provocando impasse que segue até hoje, travando a aprovação de projetos (e acabou por derrubar dois premiês de Macron). A tempestade de incertezas foi causada, aliás, por ele próprio, ao antecipar, sem necessidade, as eleições legislativas.
13 de julho: tentativa de assassinato contra Trump

Donald Trump é baleado em um comício eleitoral em Butler, Pensilvânia. O atirador, Thomas Matthew Crooks, 20 anos e motivação desconhecida, é abatido por um sniper do serviço secreto. Confirmada a morte do atacante, o republicano é retirado do local, mas antes de sair tem a presença de espírito de gravar na memória coletiva uma imagem indelével de martírio e desafio: face marcada por dois filetes de sangue, bandeira americana ao fundo, ergue o punho e grita “Lutem, lutem”.
A foto correu mundo e, ampliada ao máximo, decorou os espaços da Convenção Nacional Republicana em Milwaukee, em Wisconsin. Na ponta do lápis, porém, a maioria dos americanos já sabia em quem ia votar e o pequeno — e decisivo — contingente de indecisos pouco parece ter mudado em decorrência do atentado.
O ataque a Trump foi o mais grave contra uma alta autoridade desde que um atirador feriu Ronald Reagan, em 1981, alongando a lista de atos contra a vida de presidentes, quatro fatais, entre os quais os que mataram John Kennedy (1963) e Abraham Lincoln (1865).
Quase exatamente dois meses depois, ele vira alvo de mais uma tentativa de assassinato, desta vez enquanto jogava golfe na Flórida.
21 de julho: a desistência de Joe Biden

O atual presidente dos Estados Unidos, o democrata Joe Biden, desiste da corrida presidencial. Pouco depois, indica para representar o partido sua vice-presidente, Kamala Harris. É o mais tarde que um candidato à reeleição sai do páreo na história americana.
Ela entra na corrida de supetão, faltando meros 105 dias para a votação. Transmite desde o primeiro dia um choque de animação e esperança na campanha, tarefa facilitada pelo eleitorado desgostoso com a insistência de Biden em se reeleger, apesar da notória impopularidade, e ansiando por um salvador da pátria.
28 de julho: Maduro escancara ditadura na Venezuela

Nicolás Maduro vence as eleições venezuelanas, segundo os resultados oficiais, frustrando a esperança de mudança que floresceu nas ruas de Caracas. É, porém, uma vitória sem provas, amparada por uma realidade fabricada. Nela, o Conselho Nacional Eleitoral (CNE), órgão que trocou a neutralidade por uma maioria chavista, confirmou que ele foi reeleito com mais da metade dos votos, mas os dados teriam se perdido em um suposto ciberataque promovido pela oposição e por Elon Musk, o dono do X, mancomunados. A Suprema Corte, igualmente cooptada pelo regime, ratifica o resultado, indo contra o clamor da população, que segue protestando nas ruas, e o rechaço da comunidade internacional.
Fiscais da oposição divulgaram atas de seções eleitorais comprovando a nítida dianteira de Edmundo González, candidato desconhecido que emprestou a popularidade de María Corina Machado, impedida de concorrer por manobra do Judiciário. Europa, Estados Unidos e outros se recusaram a cumprimentar o líder bolivariano, mas a repressão só fez aumentar e Maduro aperta o nó do autoritarismo.
González fugiu do país e se exilou em Madri, embora tenha dito que voltará a Caracas para tomar o “seu” cargo em 10 de janeiro, dia da cerimônia de posse presidencial. Corina está escondida na Venezuela.
11 de agosto: Ucrânia revida

Quase três anos após soldados russos penetrarem suas fronteiras, as forças da Ucrânia devolvem na mesma moeda com invasão à Rússia. Um contingente de cerca de 1.000 militares, apoiados por tanques e drones, avança e ocupa 1.200 quilômetros quadrados de terra.
A marcha logo fica estagnada, mas Moscou não consegue tirar os ucranianos de seu país e faz a população local esvaziar várias cidades. Kiev, por sua vez, vê a região como possível moeda de troca em caso de retorno à mesa de negociação para o fim da guerra.
18 de setembro: sabotagem contra Hezbollah

Uma sucessão de explosões de pagers e walkie-talkies do Hezbollah, a milícia libanesa apoiada pelo Irã, deixa quase quarenta mortos e cerca de 4 mil feridos no Líbano, quase todos civis. A ação foi atribuída ao governo de Israel, que se manteve calado.
O atentado contra a organização que não para de fustigar os israelenses na fronteira norte do país de Benjamin Netanyahu aumentou a temperatura entre o estado judaico e seus vizinhos, um ano depois do início do conflito bélico com o Hamas, cujo palco central é a Faixa de Gaza. Os ataques ajudam a enfraquecer o Hezbollah, em paralelo a uma série de assassinatos de comandantes e figuras sêniores do grupo.
Pouco depois, em 1º de outubro, Israel invade sul do Líbano, no maior conflito entre os dois países desde a guerra de 2006. Um cessar-fogo instável se instaura em 27 de novembro, enquanto ambos os lados disparam acusações mútuas de violar o acordo.
5 de novembro: Trump é reeleito

Mais uma vez subestimado nas pesquisas eleitorais, Trump converte previsão de disputa acirradíssima contra Kamala Harris em vitória confortável não só no Colégio Eleitoral como no voto popular, uma conjunção que não acontecia no campo republicano há duas décadas. Indo além, impulsionou os candidatos do partido — sobre o qual hoje reina absoluto — nos estados com força suficiente para conquistar maioria na Câmara e no Senado.
Com a agressividade do punho em riste e rosto ensanguentado, imagem patenteada após sofrer um atentado em campanha, tomará posse em 20 de janeiro, aos 78 anos, como o primeiro presidente desde Grover Cleveland (1837-1908) a deixar uma derrota no retrovisor e se reerguer quatro anos mais tarde.
21 de novembro: mandado de prisão contra Bibi

O Tribunal Penal Internacional (TPI) emite mandados de prisão contra o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, e seu ex-ministro da Defesa, Yoav Gallant, por acusações de crimes de guerra. A corte sediada em Haia, na Holanda, disse que encontrou “motivos razoáveis” para acreditar que o líder de Israel tem responsabilidade por delitos como “fome como método de guerra” e “crimes contra a humanidade de assassinato, perseguição e outros atos desumanos”.
A decisão transforma Netanyahu e os outros em suspeitos procurados internacionalmente, e provavelmente os isolará ainda mais e complicará os esforços para negociar um cessar-fogo para encerrar o conflito em Gaza. Mas suas consequências práticas podem ser limitadas, já que Israel e seu principal aliado, os Estados Unidos, não são membros do tribunal.
O próprio TPI não tem polícia para fazer cumprir mandados. Em vez disso, depende da cooperação de seus estados-membros.
3 de dezembro: lei marcial sul-coreana

O presidente da Coreia do Sul, Yoon Suk Yeol, impõe lei marcial. A destrambelhada justificativa do político conservador, impopular e com dificuldades para governar por não ter maioria no Parlamento, era “erradicar as forças pró-Coreia do Norte e proteger a ordem constitucional livre”. O parlamento consegue votar para reverter a medida e, acuado, Yoon volta atrás. A lei que suspende atividades políticas e censura a mídia dura um total de seis horas.
Pouco depois, ele se torna alvo de investigação, sofre um impeachment e seu ex-ministro da Defesa é preso.
7 de dezembro: reabre a Catedral de Notre Dame

Cinco anos após grande incêndio que devastou o cartão-postal francês, os portais repletos de simbologia de Notre Dame são reabertos e, segundo projeções, passarão a receber uma multidão maior do que a que visita a ultraclicada Torre Eiffel.
A boa notícia para quem aprecia a construção que orna a Île de la Cité, a partir da qual as distâncias na França são medidas, é que ela volta à vida muito parecida ao que era nos tempos pré-incêndio. A árdua tarefa foi facilitada pela existência prévia de uma réplica digital em 3D que reproduz a catedral à perfeição.
A epopeia da reconstrução envolveu 2 000 artesãos recrutados a dedo para recriar as estruturas medievais, como o telhado, refeito em um tipo bem específico de carvalho — o que, embora tenha saciado a ala que queria ver a igreja tal como era, enfureceu ambientalistas preocupados com o desmatamento e tornou a logística mais arrastada. Só para recuperar pinturas e tapeçarias, foram dois anos que sugaram as energias de cinquenta profissionais, curiosamente dedicados à missão em local secreto, em prol da segurança.
8 de dezembro: cai Assad, da Síria

Rebeldes tomam Damasco, a capital da Síria, após uma ofensiva de onze dias que partiu do noroeste em direção ao sul do país, ocupando tudo no caminho. Bashar al-Assad, o ex-ditador que reagiu aos grupos opositores que se insurgiram contra seu governo na Primavera Árabe, dando início à guerra civil síria em 2011, foge com a família para a Rússia.
Durante os últimos treze anos, o país se estraçalhou, com cidades destruídas, 500 000 mortos, 12 milhões de pessoas deslocadas — sendo 5 a 6 milhões de refugiados no exterior. O avanço-relâmpago dá esperança, mas também incerteza.
Até 1º de março, foi instalada uma gestão sob a liderança do primeiro-ministro interino Mohammed al-Bashir, que anistiou os soldados de Assad e prometeu respeitar as minorias religiosas. O chefão do levante, porém, é Ahmed al-Sharaa, muçulmano sunita que hoje desfila em uniforme militar mas pouco antes, de turbante jihadista, atendia pelo nome de guerra de Abu Mohammad al-Jolani e está na lista de terroristas dos países do Ocidente. Cria do fundamentalismo da Al-Qaeda, de Osama bin Laden, ele garante ter se desligado e seguir agora uma linha pragmática na liderança do grupo Hayat Tahrir al Sham (HTS), que dava as ordens na cidade de Idlib.